1.1. AS ANÁLISES DA IMAGEM FOTOGRÁFICA
A
fotografia, enquanto fragmento da realidade, sempre fora alvo de discussões e
debates que movimentaram um grande número de interpretações. Enerst Haas,
fotógrafo internacionalmente consagrado, diz que a fotografia é “manifestação
democrática de uma arte aristocrática” (Apud. KUBRUSLY, p. 10).
Numa
outra linha de raciocínio, Philippe Dubois posiciona a fotografia em três
diferentes momentos, a saber: a fotografia como espelho do real, no qual a
realidade ligada à imagem fotográfica são faces semelhantes, isto é, há uma
igualdade entre a foto e o seu referente; a fotografia como transformação do
real, ou seja, trata-se de uma reação a essa interpretação anterior, haja vista
“que a imagem fotográfica não é um espelho neutro, mas um instrumento de
transposição, análise, de interpretação e até transformação do real, como a
língua, por exemplo, e assim, também, culturalmente codificada”; e, por fim, a
fotografia como traço do real, partindo-se da perspectiva da desconstrução da
imagem fotográfica existente numa “realidade incontornável do qual não
conseguimos nos livrar apesar da consciência de todos os códigos que estão em
jogo nela e que se combinaram para a sua elaboração” (DUBOIS, 1993, p. 26).
Estas
e outras manifestações sobre a fotografia notabilizaram-na como instrumento de
análise de memória, representação, imaginário e tantas quantas interpretações
que foram sendo alçadas ao topo dos debates por tantos quantos teóricos e
pensadores.
Conforme
o próprio Roland Barthes que no limiar de sua obra clássica “A Câmara Clara”,
revela-nos a sua inquietação no momento em que inicia a sua incursão nos
estudos sobre a fotografia:
Em relação à fotografia, eu era tomado de um desejo “ontológico”: eu queria
saber a qualquer preço o que ela era “em si”, por que traço essencial ela se
distinguia da comunidade das imagens. Um desejo como esse queria dizer que, no
fundo, fora das evidências provenientes da técnica e do uso e a despeito de sua
formidável expansão contemporânea, eu não estava certo de que a Fotografia
existisse, de que ela dispusesse de um “gênio” próprio (BARTHES, 1984, p. 12).
Um
aspecto importante a ser salientado é a indissociabilidade da análise da imagem
fotográfica em termos de recorte temporal e espacial. O ato fotográfico
interrompe, detém, fixa, imobiliza, destaca, separa a duração, captando o
momento, a circunstância, o instante. O tempo é marcado por estes momentos:
quando se dispara a máquina, há um corte temporal em que se leva em
consideração o vivido – a memória constituída naquele determinado momento
histórico.
O espaço na fotografia não é determinado, como, também, não se constrói.
É um espaço definido pelo observador, aquele que está capturando a imagem
parcial de um determinado espaço. A imagem fotográfica é uma redução e um
arranjo cultural e ideológico do espaço geográfico (LEITE, 1993, p. 19).
A
autora Miriam Leite faz uma observação de como se processa a análise dos
arranjos intrínsecos na imagem fotográfica:
O espaço fotográfico e geográfico capaz de nos revelar comportamentos,
representações e ideologias pode ser visto através das características da
imagem: tamanho, formato, suporte, enquadramento, nitidez, planos,
horizontalidade e verticalidade, assim como são explícitos e diretamente
acessíveis dados como indumentária, objetos, desenvolvimento urbano, expressões
de tecnologia (LEITE, 1993, p. 19).
Nessa
relação espaço-tempo, incluem-se as questões relacionadas à leitura da
fotografia, haja vista que o nível desta leitura dá-se numa estrutura
não-verbal, pois os comportamentos do mundo exterior são analisados em âmbitos
que variam entre aspectos explícitos na fotografia e aspectos que norteiam a
mente do observador. As questões da memória são extremamente relevantes para a
contextualização histórica da imagem fotográfica, pois, é neste quadro
analítico que se reconstroem as relações sociais e culturais não-observáveis.
Essa análise é corroborada pela autora Leite, no momento em que:
Ao lidar com a leitura da fotografia temos, pois, de trabalhar
conjuntamente com operações da mente humana e objetos, ações e figuras do mundo
exterior. O significado de uma comunicação não-verbal de comportamento
expressivo pode ser revelado pela relação entre padrões observáveis do mundo
exterior e de padrões não-observáveis da mente do observador (LEITE, 1993, p.
158).
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